sábado, 2 de maio de 2009

Artigo Açoriano Oriental dia 06 Março 2009

ROMARIAS QUARESMAIS E O TURISMO

As Romarias Quaresmais não são um atractivo turístico, nem os Romeiros têm tal nos seus objectivos. Todavia, até o são porquanto, ao virem Ranchos de Romeiros dos Estados Unidos, Canada ou, eventualmente um dia, quem sabe, de outras paragens, estão a fazer o chamado “Turismo Religioso”.
Assim, os nossos Irmãos Romeiros, também dão indirectamente o seu contributo para o desenvolvimento turístico da nossa Ilha de São Miguel, e divulgam os Açores.
Por outro lado, nenhum turista que nos visite durante o Tempo Quaresmal, ficará alheio ao passar por um Rancho de Romeiros, mesmo que vá conduzindo a sua viatura de aluguer. Muito menos ficarão os Guias que lideram um grupo de turistas e terão, obrigatoriamente, de referir tal manifestação de Fé do nosso Povo. Deste modo, conscientes de que tal irá acontecer, têm de se munir dos conhecimentos mínimos para explicar o que são as Romarias Quaresmais.
Todas estas referências são baseadas na minha experiência de Guia Intérprete e também de Romeiro. O entusiasmo que ponho ao descrever as Romarias levou já, há alguns anos, um jovem sueco, “tour líder” de um grupo de turistas que nos visitaram no verão, a vir de propósito do seu país para integrar um daqueles Ranchos. Segundo ele, foi uma experiência de tal ordem enriquecedora que muito anseia repetir.
Na verdade, é algo que não é fácil explicar. Não sendo os homens na religião Cristã os mais praticantes, mesmo na nossa Ilha de São Miguel, como podem várias centenas de homens, na sua grande maioria jovens e mesmo crianças, deixar tudo, conforto, liberdade de acção, etc. e, durante uma semana inteira, andar com uma “saca” pesada às costas, bordão numa mão e rosário na outra, coberto com um xaile e lenço ao pescoço?
São as Romarias, deste modo, uma forte demonstração do espírito de sacrifício e de abnegação das nossas gentes. Mas, estas palavras de abnegação e de espírito de sacrifício, não as atribuo apenas as Romeiros participantes nos Ranchos. Já imaginaram um casal de idosos, em casa pequena, de gente humilde, oferecerem aos Romeiros para pernoita o seu quartinho, mesmo junto à cozinha e à entrada da porta da rua, e subirem a custo uma escada para irem dormir para o sótão? É uma cena que me arrepia e que já verifiquei cerca de dez anos, na Freguesia das Sete Cidades! E quantas outras cenas de “Amor ao Próximo” já tive eu, como todos os Romeiros, oportunidade de testemunhar!
Bem hajam todos aqueles que mantêm viva esta rica tradição, que não pode deixar de ser de inspiração divina.

Manuel Oliveira
Guia Intérprete Regional
Secretário da AGIRA
oliveiracorisco@sapo.pt

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